quinta-feira, 4 de junho de 2020

Educação e ensino à distância de A a Z: Avaliação


     

Avaliação no E@D (Ver também as entradas «Inquéritos» e «b-learning») – A montante do processo de avaliação deve ser equacionado o modelo de ensino adotado, já que este tem implicações naquele. Em termos muito gerais, os modelos podem agrupar-se em dois grandes grupos: o tradicionalista, que reproduz à distância o modelo presencial, e o sócio-construtivista, teoricamente mais consistente com o E@D.
A avaliação em E@D tende a espelhar a abordagem escolhida pelo docente. No primeiro caso, ao reproduzir à distância o modelo presencial, os instrumentos escolhidos tendem a procurar que o aluno reproduza e aplique os conhecimentos adquiridos. No segundo, procura-se que o discente se envolva em práticas de avaliação reflexiva sobre o trabalho realizado, incluindo a participação ativa na avaliação do trabalho dos colegas.
O documento recentemente às escolas, intitulado «Princípios orientadores para uma avaliação pedagógica em E@D», configura-se em função do modelo sócio-construtivista, tendo por meta a atingir, findo o ciclo de ensino médio, as competências previstas no «Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória».
Contudo, subsistem questões importantes com as quais os profissionais são confrontados na sua prática quotidiana. Algumas das mais prementes – e que, não raras vezes, também assombram o ensino presencial – dizem respeito à legitimidade da avaliação: como verificar a identidade dos produtores? Como nivelar os alunos, tendo em conta os processos de avaliação, quando o seu background sociocultural adquiriu um peso inusitado no contexto de E@D ? Como avaliar os processos de aprendizagem e não apenas os produtos?
Tanto a literatura, como o documento que a sintetiza («Roteiro. Princípios orientadores…»), apontam para o envolvimento dos alunos na produção de tarefas desafiantes, que permitam evidenciar o desempenho de cada um e do grupo.
Porém, os resultados dos inquéritos realizados ao processo de E@D mostraram que 15% dos alunos ainda não têm condição tecnológica para participar plenamente no processo. Este valor atesta a desigualdade de condições que inevitavelmente terá reflexos nas aprendizagens e na avaliação.
Por outro lado, terá aumentado também a capacidade de recolha de elementos de avaliação nas sessões síncronas para valores perto dos 68%. Acresce o facto de, numa escala de 1 a 7, os docentes inquiridos situarem em 4,5 a capacidade de apreensão dos conteúdos pelos discentes. Este dado levanta muitas dúvidas sobre a real eficácia do processo de ensino/aprendizagem à distância, ou, pelo menos, exclusivamente em sistema de e-learning. Com base na mesma escala, o comportamento dos alunos nas sessões síncronas foi situado pelos professores em 5,6: um valor que também merece reflexão, já que aponta para transposição da indisciplina presencial para o E@D.
A maioria dos professores (84%) baseia a sua avaliação na recolha de trabalhos de casa. Isto é, faz assentar o processo nas sessões assíncronas. A assiduidade e a participação do aluno nas sessões por videoconferência são consideradas, para efeitos de avaliação, por cerca de dois terços dos docentes.
Apenas 33% dos professores aplica testes: um número que, sem prejuízo da aplicação síncrona de exercícios que tenham por base o «ensaio» ou o «comentário», que permitem avaliar competências que vão para além da mera cognição, evidencia a importância do trabalho assíncrono.
Em matéria de progressão 68% dos docentes diz estar a lecionar conteúdos novos, valor que ascende a 75% por parte dos professores que ensinam nas escolas privadas. Em suma, findo o ano letivo, uma percentagem significativa de alunos não terá cumprido os programas. Um facto que deve merecer atenção no início do próximo ano escolar.

Referências

MACHADO, André Eusébio - Práticas de avaliação formativa em contextos de aprendizagem e ensino a distância. Lisboa: Projeto MAIA, 2020. [em linha]. Lisboa: ME, 2017. [Consultado em 2.06.2020]. Disponível em WWW <URL: https://www.researchgate.net/publication/340940505_Praticas_de_avaliacao_formativa_em_contextos_de_aprendizagem_e_ensino_a_distancia>

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória [em linha]. Lisboa: ME, 2017. [Consultado em 19.05.2020]. Disponível em WWW <URL: https://dge.mec.pt/sites/default/files/Curriculo/Projeto_Autonomia_e_Flexibilidade/perfil_dos_alunos.pdf>

Idem – ROTEIRO – Princípios Orientadores para uma Avaliação Pedagógica em Ensino a Distância (E@D) [em linha]. Lisboa: ME, 2020. [Consultado em 19.05.2020]. Disponível em WWW <URL: https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/roteiro_avaliacao_ensino_a_distancia.pdf>

Nova SBE - Resultados preliminares do inquérito sobre ensino a distância no contexto da pandemia [em linha]. Lisboa: NSBE, 08.04.2020. [Consultado em 29.05.2020]. Disponível em WWW <URL https://www2.novasbe.unl.pt/pt/docentes-e-investigacao/destaques/research-news-detail/id/317/resultados-preliminares-do-inquerito-sobre-ensino-a-distancia-no-contexto-da-pandemia


Nova SBE - Ensino a Distância: 2º Questionário a Professores [em linha]. Lisboa: NSBE, 23.05.2020. [Consultado em 29.05.2020]. Disponível em WWW <URL: https://kc-economics-of-education.github.io/ensino-distancia-resultados-maio/#respostas-por-tipo-e-ciclos>