quarta-feira, 10 de novembro de 2021

 

2021

ANO DE GEORGE ORWELL


“O GRANDE IRMÃO ZELA POR TI.”

George Orwell, 1984

 

Em 2021, com a passagem da sua obra ao domínio público, multiplicam-se as reedições e traduções do famoso autor.

Orwell pertence à categoria de autores cuja lucidez crítica, marcada pelo desencanto, se vê presentemente reconhecida.

 

“SE O PENSAMENTO CORROMPE A LINGUAGEM, A LINGUAGEM TAMBÉM PODE CORROMPER O PENSAMENTO.”

George Orwell, 1984

 

«George Orwell», pseudónimo do escritor e jornalista inglês Eric Arthur Blair, é uma das figuras mais influentes da literatura do século XX.

Escreveu textos de ficção, crítica literária, poesia, ensaios e crónicas jornalísticas, mas é conhecido sobretudo pelas suas obras ficcionais contra os regimes totalitaristas.

Nasceu a 25 de junho de 1903, em Motihari (Bengala, Índia), e faleceu de tuberculose em Londres, no dia 21 de janeiro de 1950, sem chegar a completar 47 anos. Ainda criança, mudou-se para Inglaterra com a família.

Entre 1917-1921, frequentou uma escola de elite, graças a uma bolsa de estudos. Foi aluno de Aldous Huxley, autor do livro Admirável Mundo Novo.

Em 1922, alistou-se como jovem comissário na Polícia Imperial da Índia e serviu na Birmânia, durante cinco anos, desenvolvendo um sentimento de profundo desgosto pela instituição colonial. Demitiu-se deste cargo (1927) e regressou a Londres com o firme propósito de se dedicar à escrita.

Nos anos de 1928-1929, as suas deambulações pela Grã-Bretanha e pela França levaram-no a conhecer os bas-fond da sociedade de então.

Em 1932, exerceu como professor em algumas escolas. Foi nesse período que começou a redigir a sua primeira obra (Sem Eira Nem Beira em Paris e Londres), publicada em 1933.

Fruto das suas vivências, seguiram-se, em 1935, o livro Dias na Birmânia e, em 1937, um conjunto de crónicas sobre o mundo mineiro sob o título de A Estrada para Wigan Pier.

Posteriormente, narrando a sua experiência como combatente na Guerra Civil de Espanha, publicou Homenagem à Catalunha (1938).

O seu prestígio literário consolidou-se, em 1945, com O TRIUNFO DOS PORCOS (obra também conhecida por A QUINTA DOS ANIMAIS), fábula satírica que se tornou numa das publicações mais vendidas do século XX.

Em 1949, publicou MIL NOVECENTOS E OITENTA E QUATRO, seu último e premonitório romance, no qual descreve como o Estado assume o controlo absoluto da sociedade e restringe a individualidade de cada cidadão.

No conjunto da sua obra, Orwell revela-se como um escritor consciente das injustiças sociais, defensor incondicional da liberdade e acérrimo opositor de qualquer espécie de totalitarismo.

Os perigos da mecanização – quando o progresso se reduz apenas ao desenvolvimento tecnológico e não inclui a evolução da humanidade –, a destruição da vida natural, dos laços sociais e das condições de uma vida digna são outras das suas preocupações.

A Orwell Foundation, organização criada por Sir Bernard Crick, primeiro biógrafo do escritor, tem como missão o reconhecimento de grandes trabalhos jornalísticos e jovens talentos da escrita política.

  

PORQUE ESCREVO E OUTROS ENSAIOS

Esta antologia, editada em 2002, é constituída por um conjunto de artigos e de ensaios, de dimensão variável, que Orwell publicou em jornais e revistas, entre 1928 e 1949. São textos emblemáticos e atemporais sobre temas políticos e literários – para qualquer lugar, tempo ou leitor – não só sobre a importância da linguagem, mas também acerca do poder dos livros, da leitura e da arte contra demagogias e pretensões totalitárias.

E por que razão escreve? Porque Orwell conhece, muito antes daquilo que hoje designamos por fake news, as consequências da disseminação de uma mentira e o perigo da manipulação do pensamento por via da linguagem.

“Escrevo porque há uma mentira qualquer que quero denunciar, um facto qualquer para o qual quero chamar a atenção, e a minha preocupação inicial é ser ouvido.”

 

O TRIUNFO DOS PORCOS / A QUINTA DOS ANIMAIS

ANIMAL FARM, obra publicada em 1945, é o título original desta fábula, uma ficção política sobre uma quinta onde “todos os animais são iguais.” O texto descreve uma revolução contra a tirania que, por paradoxal que pareça, evolui para um totalitarismo igualmente terrível.

 Através da alegoria e da sátira à perversão do poder, o autor pretende despertar a consciência crítica do ser humano, algo que tende a ser banido nos regimes ditatoriais.

Deixa-nos uma advertência contra as derivas totalitárias, mostrando como o ideal de uma sociedade progressista foi traído pela corrupção, pela mentira e pela manipulação da informação.

 

“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros.”

 

MIL NOVECENTOS E OITENTA E QUATRO

Publicado em 1949, é um romance distópico e de antecipação, cujo enredo se passa num país fictício, governado por um regime totalitário que assume o controlo absoluto da sociedade, anulando a individualidade dos cidadãos.

A tirania é supervisionada pelo “Big Brother” (o Grande Irmão), líder do partido cuja personalidade é alvo de culto.

Nesta obra, Orwell pretende expor os perigos de uma sociedade dominada por um governo autoritário, sob controlo da elite privilegiada do Partido, que usa a manipulação e a novilíngua como sistemas de controlo.

Neste mundo ficcionado, a vigilância generalizada, a censura, o controlo do pensamento e a falsificação do real são uma constante. A imaginação é erradicada com cuidado, começando-se pela reorganização e empobrecimento da linguagem, entendida como um instrumento moldável em função das finalidades. Torna-se, assim, impossível outro modo de pensar, incutindo-se a ideologia do regime.

 Vocábulos e expressões como “orwelliano”, “Grande Irmão”, “novilíngua” ou “pensamento duplicado” tornaram-se de uso comum, a partir deste romance.

Eis alguns dos princípios que a “novilíngua” cumpre:

1º – A novilíngua conduz à automatização do pensamento.

2º – A redução drástica do vocabulário é o pilar da novilíngua.

3º – A modificação ou o esvaziamento do sentido das palavras pré-existentes manipula os seus significados.

Exemplo: A exterminação de milhões de judeus é designada como “Solução Final”.

4º – O discurso duplo é instaurado nas instituições públicas: a verdade é a verdade oficial. É criado o Ministério da Verdade que decide o que é verdadeiro e o que é falso.

Exemplo: É o que acontece, presentemente, quando pretendemos reescrever o passado histórico segundo as noções de “certo” e de “errado” do pensamento de hoje.

 

A novilíngua é um sistema linguístico elaborado pelos detentores do poder com o propósito de restringir o pensamento, impedindo o aparecimento de opiniões contrárias ao regime.

Para tal, procede-se à remoção de certas palavras ou de alguns dos seus significados (… como se fosse possível transformar mentalidades a partir da mudança da gramática das línguas).

A redução da riqueza lexical e da diversidade conduz, naturalmente, à diminuição da capacidade intelectual para pensar e para comunicar.