2021
ANO DE GEORGE
ORWELL
“O GRANDE IRMÃO ZELA POR TI.” George
Orwell, 1984 |
Em 2021, com a passagem da sua obra
ao domínio público, multiplicam-se as reedições e traduções do famoso autor.
Orwell pertence à categoria de
autores cuja lucidez crítica, marcada pelo desencanto, se vê presentemente
reconhecida.
“SE O PENSAMENTO CORROMPE A LINGUAGEM, A LINGUAGEM TAMBÉM PODE
CORROMPER O PENSAMENTO.” George
Orwell, 1984 |
«George Orwell», pseudónimo do escritor e jornalista inglês
Eric Arthur Blair, é uma das figuras mais influentes da literatura do século
XX.
Escreveu textos de ficção, crítica literária, poesia, ensaios
e crónicas jornalísticas, mas é conhecido sobretudo pelas suas obras ficcionais
contra os regimes totalitaristas.
Nasceu a 25 de junho de 1903, em Motihari (Bengala, Índia), e
faleceu de tuberculose em Londres, no dia 21 de janeiro de 1950, sem chegar a
completar 47 anos. Ainda criança, mudou-se para Inglaterra com a família.
Entre 1917-1921,
frequentou uma escola de elite, graças a uma bolsa de estudos. Foi aluno de
Aldous Huxley, autor do livro Admirável
Mundo Novo.
Em 1922,
alistou-se como jovem comissário na Polícia Imperial da Índia e serviu na
Birmânia, durante cinco anos, desenvolvendo um sentimento de profundo desgosto
pela instituição colonial. Demitiu-se deste cargo (1927) e regressou a Londres com o firme propósito de se dedicar à
escrita.
Nos anos de 1928-1929,
as suas deambulações pela Grã-Bretanha e pela França levaram-no a conhecer os bas-fond da sociedade de então.
Em 1932, exerceu
como professor em algumas escolas. Foi nesse período que começou a redigir a
sua primeira obra (Sem Eira Nem Beira em Paris e Londres), publicada em 1933.
Fruto das suas vivências, seguiram-se, em 1935, o livro Dias na Birmânia e, em 1937, um conjunto de crónicas sobre o
mundo mineiro sob o título de A Estrada para Wigan Pier.
Posteriormente, narrando a sua experiência como combatente na
Guerra Civil de Espanha, publicou Homenagem à Catalunha (1938).
O seu prestígio literário consolidou-se, em 1945, com O TRIUNFO DOS PORCOS
(obra também conhecida por A QUINTA DOS ANIMAIS), fábula
satírica que se tornou numa das publicações mais vendidas do século XX.
Em 1949, publicou MIL
NOVECENTOS E OITENTA E QUATRO, seu último e premonitório romance, no
qual descreve como o Estado assume o controlo absoluto da sociedade e restringe
a individualidade de cada cidadão.
No conjunto da sua obra, Orwell revela-se como um escritor
consciente das injustiças sociais, defensor incondicional da liberdade e
acérrimo opositor de qualquer espécie de totalitarismo.
Os perigos da mecanização – quando o progresso se reduz
apenas ao desenvolvimento tecnológico e não inclui a evolução da humanidade –,
a destruição da vida natural, dos laços sociais e das condições de uma vida
digna são outras das suas preocupações.
A Orwell Foundation, organização criada por Sir Bernard Crick,
primeiro biógrafo do escritor, tem como missão o reconhecimento de grandes
trabalhos jornalísticos e jovens talentos da escrita política.
PORQUE ESCREVO E OUTROS
ENSAIOS
Esta antologia, editada em 2002, é constituída por um
conjunto de artigos e de ensaios, de dimensão variável, que Orwell publicou em
jornais e revistas, entre 1928 e 1949. São textos emblemáticos e atemporais
sobre temas políticos e literários – para qualquer lugar, tempo ou leitor – não
só sobre a importância da linguagem, mas também acerca do poder dos livros, da
leitura e da arte contra demagogias e pretensões totalitárias.
E por que razão escreve? Porque Orwell conhece, muito antes
daquilo que hoje designamos por fake news, as consequências da
disseminação de uma mentira e o perigo da manipulação do pensamento por via da
linguagem.
“Escrevo porque há uma mentira qualquer que quero denunciar, um
facto qualquer para o qual quero chamar a atenção, e a minha preocupação
inicial é ser ouvido.” |
O TRIUNFO DOS PORCOS / A
QUINTA DOS ANIMAIS
ANIMAL FARM, obra publicada em 1945, é o título original desta fábula, uma
ficção política sobre uma quinta onde “todos os animais são iguais.” O texto
descreve uma revolução contra a tirania que, por paradoxal que pareça, evolui
para um totalitarismo igualmente terrível.
Através da alegoria e
da sátira à perversão do poder, o autor pretende despertar a consciência
crítica do ser humano, algo que tende a ser banido nos regimes ditatoriais.
Deixa-nos uma advertência contra as derivas totalitárias,
mostrando como o ideal de uma sociedade progressista foi traído pela corrupção,
pela mentira e pela manipulação da informação.
“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que
outros.” |
MIL NOVECENTOS E OITENTA E QUATRO
Publicado em 1949, é um romance
distópico e de antecipação, cujo enredo se passa num país fictício,
governado por um regime totalitário que assume o controlo absoluto da
sociedade, anulando a individualidade dos cidadãos.
A tirania é supervisionada pelo “Big Brother” (o Grande Irmão), líder do partido cuja
personalidade é alvo de culto.
Nesta obra, Orwell pretende expor os perigos de uma sociedade
dominada por um governo autoritário, sob controlo da elite privilegiada do Partido, que usa a manipulação e a novilíngua
como sistemas de controlo.
Neste mundo ficcionado, a vigilância generalizada, a censura,
o controlo do pensamento e a falsificação do real são uma constante. A
imaginação é erradicada com cuidado, começando-se pela reorganização e empobrecimento da linguagem, entendida como um
instrumento moldável em função das finalidades. Torna-se, assim, impossível
outro modo de pensar, incutindo-se a ideologia do regime.
Vocábulos e expressões
como “orwelliano”, “Grande Irmão”, “novilíngua” ou “pensamento duplicado”
tornaram-se de uso comum, a partir deste romance.
Eis alguns dos princípios que a “novilíngua” cumpre:
1º – A novilíngua conduz à automatização do pensamento.
2º – A redução drástica do vocabulário é o pilar da novilíngua.
3º – A modificação ou o esvaziamento do sentido das palavras
pré-existentes manipula os seus significados.
Exemplo: A exterminação
de milhões de judeus é designada como “Solução Final”.
4º – O discurso duplo
é instaurado nas instituições públicas: a verdade é a verdade oficial. É criado
o Ministério da Verdade que decide o que é verdadeiro e o que é falso.
Exemplo: É o que
acontece, presentemente, quando pretendemos reescrever o passado histórico
segundo as noções de “certo” e de “errado” do pensamento de hoje.
A novilíngua é um sistema linguístico elaborado pelos
detentores do poder com o propósito de restringir
o pensamento, impedindo o aparecimento de opiniões contrárias ao regime.
Para tal, procede-se à remoção de certas palavras ou de
alguns dos seus significados (… como se fosse possível transformar mentalidades
a partir da mudança da gramática das línguas).
A redução da riqueza lexical e da diversidade conduz, naturalmente, à diminuição da capacidade intelectual para pensar e para comunicar.