quarta-feira, 20 de maio de 2020

Como Bola Colorida...

Como Bola Colorida - Livro - WOOK

«Com Prefácio de José Mariano Gago:
“É um belo livro de histórias sobre a História da Terra.
Galopim de Carvalho, geólogo afectivo, professor, cientista, interventor, escreveu-o como fala: com um sorriso maroto e sem deixar de nos guiar pelo campo.
Ao lermos, julgando ainda estar sentados, entrámos sem saber num passeio geológico de domingo, de botas e pau ferrado, a ver finalmente ganhar sentido o que sempre tinham julgado olhar, mas sem verdadeiramente ver: pegadas de dinossauros extintos antes sequer de haver gente humana nesta Terra, rochas que já foram pó, rio, lava de vulcão, restos de terramoto.
Gosto de pensar que Galopim nos mandou este livro para nos prepararmos durante a semana para o próximo dos seus passeios geológicos, ao vivo esse, com a Ciência Viva, num qualquer domingo. Conta connosco, amigo!
Há um mistério nas narrativas que vêm da ciência: tal como nas antigas epopeias ou nos livros de viagem, a evocação do real através da leitura, sem conhecimento prático prévio da experiência que lhe dá sentido, parece ser suficiente para parecer recriá-lo ao ponto de quase partilharmos o próprio sentido da experiência científica.
Tanto assim é que até já foi possível evidenciar que toda, ou quase toda, a narrativa de divulgação científica replicava a das fábulas e dos mitos. Contudo, e ao contrário do que se poderia temer, a massificação do texto de divulgação científica não ergueu um vidro de montra intransponível e desencorajador entre o leitor e a cultura científica. Pelo contrário, trouxe mais estudantes à aprendizagem das ciências e às profissões técnicas e científicas, mais autodidactas ao contacto com os desafios do conhecimento científico, mais público aos museus e centros de ciência e mais familiaridade social com a cultura de crítica e avaliação presente na actividade de investigação.
Tudo se passa como se, afinal, a narrativa escrita sobre a ciência e de dentro dela lograsse estabelecer um caminho de acesso amplo, entre outros, mas insubstituível, à apropriação da cultura científica pelo maior número de pessoas. O diálogo de proximidade, a experimentação prática, o envolvimento sensorial, a surpresa e a dúvida guiadas, são obviamente fundamentais para que este processo de apropriação, que a escrita pode estimular, abrir, ou pontuar, se estabeleça e se possa enraízar. Mas o discurso narrativo, explicito no livro de divulgação ou implícito nas instalações e na programação dos centros de ciência, parece dar um corpo e uma voz indispensáveis à procura de quem se dá à vontade de saber mais. O livro, não sei se “de divulgação”, mas certamente “de ciência” está para ficar.
Mas que livro e que escrita? Uma tendência parece ser a de encontrar um meio-termo entre a epopeia extensa e o mosaico de cenas isoladas que ajam como contos breves e momentos autónomos da narrativa. A escrita encontra, desta forma, um ponto de encontro com os intervalos de atenção disponibilizados pelo leitor, sem se perder na colecção anedótica de lampejos de sentido impossível de compreender. É precisamente assim, de histórias e iluminações em fundo de narrativa – como a da própria Terra - que se desdobra esta obra de Galopim de Carvalho.
Como a bola colorida do poeta António Gedeão, Rómulo de Carvalho na sua vida de professor, professor de professores, divulgador e historiador da ciência, a quem este livro é justamente dedicado, também o livro, como a ciência, e a cultura científica, “pula e avança nas mãos de uma criança”, ou nas de cada um de nós.”
José Mariano Gago
Maio de 2007»