Para comandar o exército invasor, Filipe IV mandou vir da Flandres o experiente e afamado Marquês de Caracena. Foram reunidas tropas que a Espanha mantinha na Europa continental, e que eram experimentadas nos vários cenários de guerra, como era o caso da Flandres, dos Estados Italianos, da Alemanha, da Suíça, e de tropas que haviam combatido as forças francesas. Era a elite e a fina-flor dos experientes e afamados tércios espanhóis. No total, o exército espanhol atingia cerca de 22.000 homens, dos quais 15.000 infantes e 7.000 cavaleiros, a grande maioria dos quais com grande experiência de combate. Este exército dispunha ainda de catorze peças de artilharia.
A 1 de junho de 1665, o Marquês de Caracena, à frente de um poderoso exército, partiu de Badajoz, passando o Caia no dia 7. No dia 9, Borba caía em seu poder. Investiu, em seguida, sobre Vila Viçosa, que cercou e tentou, sem sucesso, tomar de assalto.
O exército português reunido em Estremoz, com 20.500 soldados de infantaria e de cavalaria, pôs-se em marcha no dia 17 de junho. Tinha como objetivo socorrer a guarnição da praça sitiada, antes que esta soçobrasse ao peso dos números do inimigo, mas também de provocar uma batalha contra o exército espanhol. No dia 17 de junho, os espanhóis ao saberem da aproximação do exército português, deixaram uma pequena força a cercar Vila Viçosa, e partiram ao encontro dos portugueses. Os dois exércitos encontraram-se então na planície situada entre as serras da Vigária e da Ossa, a partir das nove horas da manhã. Caracena pretendeu atacar o exército português ainda em marcha. O Marquês de Marialva percebeu este intento e ordenou que o seu exército parasse em Montes Claros, dispondo-o em ordem de batalha. Schomberg executou esta missão com rapidez e com a sua hábil ciência militar.O exército do Marquês de Caracena iniciou a marcha em massa contra as forças portuguesas, através de dois corpos, um de cavalaria e outro de infantaria, tendo-se verificado os primeiros combates junto ao Convento de Nossa Senhora da Luz.
Caracena, que colocou o seu posto de comando na Serra da Vigária, pretendia surpreender a cavalaria portuguesa, dividida em duas alas, carregando a cavalaria espanhola sobre o centro e a ala direita portuguesa, procurando isolá-las da ala esquerda. O Conde de Schomberg prevendo essa intenção espanhola, fez deslocar a cavalaria portuguesa do flanco esquerdo (vinhas) para o flanco direito (contrafortes da Serra de Ossa), o que se revelou uma medida extremamente acertada.
Iniciado o ataque da cavalaria espanhola no flanco direito português, os terços e a cavalaria portuguesa da primeira linha sofreram uma forte pressão, salvando-se apenas dessa situação crítica pelo referido reforço da cavalaria portuguesa e pela intervenção decidida da artilharia chefiada por D. Luís de Meneses, que abriu fogo à queima-roupa contra as linhas inimigas.
Ao mesmo tempo, a infantaria espanhola avançou, apesar das dificuldades do terreno composto por vinhas, sobre a infantaria portuguesa situada na ala esquerda.
Perante esse avanço espanhol, um regimento inglês efetuou uma retirada precipitada, dois regimentos franceses foram rechaçados e um terço de auxiliares de Évora que ia em seu auxílio sofreu um revés. O Conde de Schomberg, que com grande diligência acudia aos mais difíceis confrontos, chamou três terços portugueses e introduziu-os nesse local a combater. Esta iniciativa obrigou os castelhanos a perder o terreno que haviam ganho.
Mais tarde e depois de recomposta, a cavalaria espanhola procurou romper a segunda linha da ala direita portuguesa. Perante a situação crítica que se criou, destacou-se o Marquês de Marialva ao organizar uma forte resistência com piques e artilharia, bem como o Conde da Ericeira, D. Luís de Meneses, que comandava a artilharia portuguesa, conseguindo-se dessa forma evitar o recuo do exército português.
Deram-se, em seguida, choques muito duros e violentíssimos entre os esquadrões dos dois exércitos, com avanços e recuos entre as duas cavalarias. Nesse momento, o Marquês de Marialva, temendo que a infantaria espanhola acabasse por romper o flanco esquerdo português, situado como se referiu num terreno com vinhas, o que comprometeria a defesa brilhante que a segunda linha portuguesa do centro e da direita estava a efetuar, desguarneceu a ala direita portuguesa, e deslocou alguns terços para a ala esquerda. Este movimento permitiu restabelecer o equilíbrio do combate a favor das forças portuguesas. A batalha foi de uma dureza extrema, estando durante muito tempo indecisa, ou parecendo mesmo pender para o lado espanhol. Às três da tarde, depois de sete horas de duros combates, foi possível suster a agressividade dos ataques do exército espanhol, em face da tenaz e bem organizada resistência portuguesa.
As forças portuguesas, depois de recompostas das primeiras brechas e com a ajuda da sua artilharia que, colocada nos contrafortes da Serra d´Ossa, sempre se revelou extremamente eficaz, conseguiram fazer recuar o inimigo. Verificando não conseguir romper as forças portuguesas, a cavalaria castelhana parou as suas cargas e a artilharia suspendeu os disparos. O exército espanhol pretendeu então retirar disfarçadamente, tendo D. Diniz de Melo, general de cavalaria, sido avisado dessa intenção, decidindo carregar decididamente sobre os castelhanos. A investida foi tão enérgica que transformou a retirada em debandada desordenada. O Marquês de Marialva, ao ver a cavalaria espanhola em fuga em direção a Borba, tirou o máximo partido da situação, cortando-lhe a retirada. Este facto agravou ainda mais a desordem da retirada, deixando então o exército espanhol na posse dos portugueses milhares de prisioneiros. Escaparam apenas quatro terços que se tinham concentrado na Serra da Vigária, junto ao Marquês de Caracena. Nesse momento, a guarnição de Vila Viçosa, ao verificar a evolução da batalha, investiu corajosamente, rompendo o cerco que 1.800 espanhóis lhe faziam. Foi apresada a artilharia espanhola que se encontrava em volta de Vila Viçosa, sendo também feitos muitos prisioneiros. Os restantes sitiantes espanhóis debandaram.
A Batalha de Montes Claros terminou assim com uma pesada derrota espanhola, depois de nove horas de combates. O exército português sofreu cerca de 700 mortos. Contudo, o exército espanhol sofreu 4.000 mortos e 6.000 prisioneiros, tendo ainda perdido 3.500 cavalos, que foram posteriormente distribuídos pelas várias companhias do Reino. Foram também capturadas ao exército castelhano 14 peças de artilharia, inúmeras balas, todo o tipo de armas de infantaria, 80 bandeiras de infantaria e 18 de cavalaria.
Referência:
Cais da Memória - A Batalha de Montes-Claros [em linha]. [Consultado em 20.06.2020]. Disponível em WWW. <URL: https://ocaisdamemoria.com/2017/07/17/batalha-de-montes-claros-guerra-da-restauracao/ > . Texto adaptado.